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15 junho 2006

Difícil Acordar



Acordo com a claridade cinza de um dia choroso. Tento enganar o acordar cerrando os olhos e, às apalpadelas, fecho a cortina da janela de sótão. Mergulho na cama, soco as almofadas, crio um nicho para a minha cabeça, mantenho os cabelos na cara, enrolo-me nos lençóis e, finalmente, dou folga às pálpebras.

Não me apetece dizer bom dia ao mundo. Que se danem todos... chau. Não me incomodem!

Dou voltas e mais voltas, pretendo deletar os caóticos pensamentos que recusam dormir e, contrafeita, desisto quando os pés, por auto-iniciativa, enrolam os lençóis, projectando-os com força para o fundo da cama.

Abro os olhos. A claridade da casa-de-banho chama-me através dos vidros que a separam do meu quarto. Imagino-me curvada sob o lavatório, lavando os dentes, espreitando sorrateira a minha figura amarfanhada, desgrenhada e olherenta, resistindo ao imenso espelho que sorri vitorioso.

Primeiro pensamento do dia: Será que a alma tem rugas?