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24 novembro 2006

Onde andas amiguinho?


Foto: minha autoria



As pessoas passam em correria de chegar cedo. Cedo para quê? Olho o chão. Quisera vê-lo fugir debaixo dos pés, mas ele é fixo e obriga-me a andar. Todos correm para a monotonia dos lares, ao qual chegam por atropelos e cotoveladas, más educações e egoísmos. Nem um com licença, nem um sorriso inocente de promessa, nada.

A protecção civil…. Blá blá blá. Só sinto o quente da chuva e gosto. Não quero saber se há comboios, barcos, metro, se a linha de comboio se transformou em rio. É tão divertido o inesperado… Sigo em passos vagarosos, contrastantes dos outros que por mim passam. Aquele corre… logo outros o seguem em correria. Não sabem o que é andar devagarinho? Que se danem os transportes, que se danem as horas… estou de saída para o fim-de-semana. Permitam-me pisar em sorriso o som que sai dos meus headphones.

Eis que chega o comboio. Sei de cor o que me aguarda. Deixo entrar os apressados, que se sentam. Homens robustos, de cara virada, fingem não ver as senhoras que, de pé e desiludidos olhos, imploram por um lugar vago. Parece o jogo da cadeira. Sorrio… a música… essa tenho-a eu e não tenciono desligar o aparelhinho que seguro por entre os dedos.

A busca de lugar termina. Já posso avançar. Permito-me caminhar até à porta de ligação das carruagens. As caras tomaram a devida direcção e imagino o olhar dos patetas. Encosto-me. Um qualquer olha-me descaradamente. Evito o olhar… Não quero estragar o meu som, nem mesmo por uns olhos bonitos como os dele.

As narinas abrem-se em busca do perfume dos meus pulsos… tão bom. Hummm… O som invade-me e evade-me… adoro. Fecho os olhos e deixo-me guiar em voo não contido. Perde-se no ar o som não dito de um simples obrigado.

Sonho o que não vejo… Que saudade sinto de ti meu pequenino Alessandro.