Foto: minha autoria
Tentei dormir, um soninho descansado… disse mesmo “Anjinho da Guarda, minha companhia, guardai minha alma de noite e de dia”, mas meu coração não sossegou. Bateu forte, em desespero, fez-me virar e revirar por entre os lençóis. Ouvi meu choro, primeiro mansinho, depois a querer impor-se.
Sentei-me em esforço na beirinha da cama e mantive o corpo encolhido por entre um abraço forte, cabeça sob os joelhos. E quanto mais dizia para mim “Força!!!, força!” mais aquelas surgiam em descontrolado pranto. Levantei-me em fúria, dei passos pelo soalho enquanto limpava o rosto. Uma dor me acometeu, dor imensa, inexplicável, como todas as dores que se tem, mas maior. Uma dor que me fez olhar o Céu e desejar que ele me levasse bem para longe de mim. Uma dor que ninguém poderia apagar, por ser tão forte e inexplicável. Uma dor minha, de revolta, de insatisfação, de desgaste, de desconsolo, solidão… assim como se eu não existisse e tudo fosse vão, ou fosse uma marioneta nas mãos de um gigante invisível, uma marioneta que se julgasse viva, com vontades e decisões próprias. E quanto maior a dor se tornava mais o choro se extinguia, mas não porque a calma se sentisse, antes o medo. Medo do nada.
Vivo em mundos de ilusão insuficiente. Não aceito o que me dão, nunca me basta. E quero tão pouco. Um sorriso, uma dádiva sentida, uma alegria em carinho. Um correr pelos caminhos agrestes, em companhia.
A noite assusta-me, tem tentáculos de tristeza, faz-me mal o seu silêncio cortado pelo vento nas telhas. Ligo o rádio, baixinho, mas as notas que oiço vêm em forma de fantasmas bonitos e não me acalmo. Desligo. Quem dera fosse tão fácil desligar esta dor.