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06 março 2007

Anjinho da Guarda...



Foto: minha autoria

Tentei dormir, um soninho descansado… disse mesmo “Anjinho da Guarda, minha companhia, guardai minha alma de noite e de dia”, mas meu coração não sossegou. Bateu forte, em desespero, fez-me virar e revirar por entre os lençóis. Ouvi meu choro, primeiro mansinho, depois a querer impor-se.

Sentei-me em esforço na beirinha da cama e mantive o corpo encolhido por entre um abraço forte, cabeça sob os joelhos. E quanto mais dizia para mim “Força!!!, força!” mais aquelas surgiam em descontrolado pranto. Levantei-me em fúria, dei passos pelo soalho enquanto limpava o rosto. Uma dor me acometeu, dor imensa, inexplicável, como todas as dores que se tem, mas maior. Uma dor que me fez olhar o Céu e desejar que ele me levasse bem para longe de mim. Uma dor que ninguém poderia apagar, por ser tão forte e inexplicável. Uma dor minha, de revolta, de insatisfação, de desgaste, de desconsolo, solidão… assim como se eu não existisse e tudo fosse vão, ou fosse uma marioneta nas mãos de um gigante invisível, uma marioneta que se julgasse viva, com vontades e decisões próprias. E quanto maior a dor se tornava mais o choro se extinguia, mas não porque a calma se sentisse, antes o medo. Medo do nada.

Vivo em mundos de ilusão insuficiente. Não aceito o que me dão, nunca me basta. E quero tão pouco. Um sorriso, uma dádiva sentida, uma alegria em carinho. Um correr pelos caminhos agrestes, em companhia.

A noite assusta-me, tem tentáculos de tristeza, faz-me mal o seu silêncio cortado pelo vento nas telhas. Ligo o rádio, baixinho, mas as notas que oiço vêm em forma de fantasmas bonitos e não me acalmo. Desligo. Quem dera fosse tão fácil desligar esta dor.

04 março 2007

Tou Tiste...



Foto: Minha autoria





Determinada estou a finalizar algo que iniciei faz anos. Percebo que tudo o que realmente me interessa tem altos e baixos, entusiasmos e desalentos, lutas constantes com o meu Eu - ora teimoso e cheio de forças, ora desapegado e mandrião. As minhas decisões acabam por se concretizar, sei bem que será esse o desfecho, mas teimo em criar tensões que me stressam até aos limites da minha paciência. Por tal, ralho comigo, chamo-me a atenção e mergulho em arrependimentos tardios, mas não definitivos.

O trabalho é interessante, cria em mim desafios constantes e, quando mergulhada em leituras, o entusiasmo exacerba-se ao ponto de esquecer que devo alimentar este físico a acusar magreza.

Oiço música durante o processo e dou comigo a abanar a cabeça, enquanto, em gestos de maestro, empunho a caneta com que sublinho os apontamentos. Os pés não param de tremelicar e o delírio é atingido em ideias que tento reter em tópicos soltos, pelos vários ficheiros que crio no Word. Pela secretária, chão e sofá proliferam folhas, livros e fotocópias de apontamentos, num desorganizado espaço físico assustador.

Quarta-feira, se tudo correr como combinado, encontrar-me-ei com o Professor Orientador. Sei que vou titubear, as minhas mãos irrequietas tentarão colmatar as falhas da voz e do pensamento, durante os primeiros minutos (mínimo 10 – se não for muito interrompida), que depois acalmo, fico adulta e difícil será calar-me.

Mas sinto uma solidão estúpida que me entristece e frustra. Penso como seria bom “sentir-te a meu lado” num orgulhoso olhar por entre a fresta da porta do escritório, brincando em sorriso de contemplação na minha pessoa. Ver-te entrar em bicos de pés, numa pantomímica engraçada, equilibrando um prato de comida. Perceber o alargar do teu sorriso ao verificar que meus olhos brilham de amor incontido e, já sem medo de reprimendas, sentir as tuas mãos pegar nas minhas enquanto, de forma mimada, me pedes uma pausa, que concederei de imediato. Acompanhar os teus passos até ao quintalinho, tão esquecido, e aconchegar-me no teu abraço a contemplar a Lua que se esconde por entre adivinhadas nuvens, enquanto te acaricio as mãos e brinco com teus dedos.

Paro então o meu trabalho, a minha leitura, a caneta… dou-me conta dessa falta, em tristeza embrulhada e, num manso carinho de e para mim, escuto melhor a música e faço-me um pouco de companhia. Abro os meus pequenos mundos e escrevo de enfiada este texto, paradigma dessa estúpida solidão.