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05 outubro 2007

Concha Buika



As células do meu corpo tornam-se emocionalmente especiais e toda eu, olhos fechados, numa dança retorcida e sentida, nascida de um estranho mas não desconhecido prazer, voo.

O encanto preenche-me todos os vazios, transforma-me, abençoa-me o que não tenho, mas desejaria ser.

Abro as asas nesse voo quente e abraço a minha alegre tristeza em carinhos calmos, como se encarnasse outra coisa ou pessoa e deixasse de ser eu para ser EU.

Em mim um doce sofrimento que não magoa surge em momentos breves e torna-me graciosamente pequena.

Deusa dançante me torno e gosto e permito e anseio e sinto e viajo por entre os vários sons de instrumentos que pisam suavemente o meu mundo.

De repente tudo tem vida. Presenteio-me de um crer fortalecido, sólido, indestrutível e estendo a mão para agarrar o que de bom em mim exista, eternizando-o num drama.

E a fealdade torna-se bela, como se atraída fosse pelo som quente e arrastado de uma noite cheia de estrelas. Os meus pés descalços, que não tocam o chão, arrastam-se pelos brilhos da música, que me rasga inevitavelmente a alma, me despenteia em perfume e me apresenta um sorriso cheio de Lua.