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19 novembro 2007

Navegar é Preciso!




Foto de minha autoria





Dizem que a dor faz-nos crescer. Prefiro ser pequenininha!

Encontro-me num estado de exaltação que me abana os nervos, me troca os movimentos, me desajeita o andar.

Deixei o meu filho num edifício que tem na fachada escrito, a letras gordas, ARMADA.

Vi-o afastar-se do meu regaço, por entre as gotas de chuva que se colaram ao vidro do carro. Senti um tremor estranho na alma ao olhar seu passo lento. O meu bebé cresceu, fez-se um homem em busca de um destino. E eu, ali, quieta a olhá-lo, com perfeita noção das minhas incapacidades, das limitações que me atrofiam esta vontade controlada de o proteger.

Disse-me adeus, já ao longe. Adivinhei-lhe o frio a trepar dentro de si, em murmúrios de um querer e não querer.

Logo hoje a chuva apareceu.

Pediu-me que lhe desejasse sorte. A minha voz saiu alta, sem que o previsse “- Boa sorte meu filho. Manda-te a eles, arrasa-os!” – disse-lhe, sem perceber. Suou-me quase a absurdo. Mandar-se a eles?, arrasá-los? Que estranha forma de lhe desejar sorte, mas foi o que saiu, em forma de comando.

Depois, fiquei ali, sentada a olhar o seu andar, um tempinho a apertar as mãos em preces desejadas, que nunca têm sentido.

“- Se não for apurado é porque não tinha de acontecer.” – disse-me, antes de sair do carro. Senti vacilar a sua voz no olhar que me deitou, como se o que acabava de dizer não fosse uma afirmação, mas antes uma interrogação feita a mim, sua mãe e confidente.

Adorado filho, o destino tem tantos caminhos lavrados de ses.

“ – Se não me aceitarem parto aquilo tudo, dou cabo de todos.” – gracejou.

“- Eu ajudo!” – disse-lhe a sorrir, pegando-lhe as mãos frias.

Regressei a casa, com o estômago a rodar de ansiedade crescente.

E ainda só lá vão cerca de 3 horitas após a minha mensagem de “Vais conseguir!”. Digo cada patetice nas mensagens que lhe envio.

Vão aqueles senhores ver o físico do meu filho e tentar avaliar-lhe a psique. Como se o conseguissem. Esse homem, nascido de mim, alberga meandros lindos e terríveis de capacidades inimagináveis em desencontros de raiva e amor, certezas e inseguranças.

Jamais conseguirão dissecar-lhe a alma, tão cheia de ternura e raivas, tão desejosa de se encontrar, tão à defesa, num mundo que ora crê conquistar, ora odeia e pinta com salpicos de negrura e abandono.

Tenham calma, meus senhores, que esse ser que mascaram de número e apelido é o que de mais importante a vida me deu e eu preciso desesperadamente sentir a sua força, para dar algum descanso a estes fágeis argumentos maternos.

E este amor pleno que de pouco serve em caso de revolta…

Amotino meu navio, mais uma vez, silenciosamente, em pensamentos de construção frágil, pintados às três pancadas, balançando ao sabor de desejos agoniados e incertos.

Resta-me aguardar, ansiosa, o seu regresso.

Por fim, mal rendida, em contínuo desassossego, lanço a âncora deste amor forte numa frase detestável: “O que for, será… Cá estarei, SEMPRE!”

BOA SORTE FILHO!

01 novembro 2007

Linhas de Uma Vida


Foto: Minha autoria


Esgravato sem dó meus pensamentos e sem dó os sorrisos se desapegam de mim, voam para longe, envelhecidos, doentes. Olho minhas mãos, em susto. Não as sei desenhar ou descrever. Serão minhas? Observo a linha da vida, enorme e bem definida.

Preciso afastar-me de mim, viajar em velocidade ou doce lentidão, mas fugir. Olhar meu corpo em fuga e aliviada dormir um sono lindo e calmo.

Por onde andas minha vida? Salto constantemente tuas linhas e erro a que me pertence…

O som do violão espalha-se e odeio a serenidade que percorro ao ouvi-lo. Outrora tive uma viola, só por ter - que não a sabia tocar - mas era bom olhá-la, sentir o seu cheiro a madeira e verniz, ver dedos a dedilhá-la enquanto nervosa esperava a vez de cantar.

Tive uma linha para mim, uma linha de uma vida a que não pertenço, mas partilhei. Fugiu sem eu saber como e em que altura, quando olhei em redor já lá não estava. Para trás… eu, qual menina abandonada, de olhos esbugalhados e boca aberta, segui meu caminho em companhia de mim, meia cabisbaixa, por não saber o que olhar.

Tive outras linhas, mas com a tendência de tropeçar no nada, em nada quase ficaram.

Sou um molde com defeitos que tenta aperfeiçoar-se, mas o tempo passa, também ele sem dó, acabo por ficar mais perfeita nas imperfeições acumuladas.

E o desespero que cheiro nas mãos que olho e conheço - por as olhar, somente por isso – desenha-se em sorrisos ingenuamente imaginados, perdidos de si e jamais encontrados.