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12 dezembro 2010

Devolução Urgente!


Alguém viu a minha pessoa por aí? Ar de doida, aura positiva, cheia de confiança e certezas... “speedada”, segura de si, calmíssima, alegre, brincalhona?

Devolvam-me por favor, que ficou por aqui o oposto e não me sinto nada bem. Receio que o coração me saia em vómito, ou de tão acelerado gripe e pare de vez. O ar entra e retenho-o alguns segundos, mas não resolve este vazio, esta ânsia e o negativo perfeito de mim.

Preciso recuperar-me, expulsar esta coisa que se alapou ao que ainda vejo e sinto como corpo, adulando-me, convencendo-me que sou uma super mulher, mas que me mina por dentro e por fora, me vai derretendo a alma, me faz tremer.

Vislumbro esta fraude, quando me percebo uma simples mulher, banal, viciada em tantas coisas tolas, mas nem é isso que me incomoda e sim o que boicoto, o que não faço, o que deixo para amanhã... esta inércia patética que nem os neurónios movimenta.

Tenho saudades do que não tive.... tenho saudades de mim.

Alguém me viu por aí?

05 dezembro 2010

A Fuga

Senti-te chegar de forma abrupta num barulho ensurdecedor e agressivo.

Carregavas presenças várias, cheiros, cores, até manias. Tocaste em mim, na minha solidão, bruscamente, até me modificares a calma, até me tornares nela.

Não sei se gosto de ti… mas, há pouco, quando tocaste os meus cabelos, fiz apelo à razão, corri o mais que pude, resisti à vontade de ficar, para que me envolvesses por completo.

Fugi!

Apeteceu-me sentir-te, mas soube-me bem fechar a porta, deixando-te para trás.

Agora, no silêncio deste quarto, olho por entre a escuridão as janelas. Nos vidros virados a Céu resvalas docemente, te encontras, em riscas húmidas te transformas até caíres inofensivamente no chão do meu quintal.

14 novembro 2010

O som da liberdade





Deveria ser uma bailarina cantante... saltar sebes, correr pelo mato, respirar o odor do tempo, gargalhar o riso, fazer a minha felicidade, permitir-me ser sempre eu.


Estar rodeada de gente gira, descomplicada, amiga. Contorcer-me em passos impossíveis, cheios de música e graciosidade até me estafar e espojar-me pela terra cheirosa, sentir-lhe o som, o ranger das rochas, o sibilo do vento.


Deixar a chuva entranhar-se em minha alma, lavá-la das impurezas.


Ser leve, sonhadora, criança-mulher.


Pegar a vida entre as mãos, moldá-la, transformá-la...


Não ter medo do amanhã, dos olhares, da solidão, dos sacrifícios, do desconhecido.


Viver.


Maravilhar-me com tudo, encher o pensamento de esperança, ter a certeza que o meu nascimento não foi coisa vã.


Semear a esperança, abrir o coração e voar.


Saber o que sinto, com ternura, com beleza, com vontade de acariciar o gosto, de sempre albergar a timidez da inocência.


Olhar muito, ver muito, sentir ainda mais que vale a pena, que valerá sempre a pena a escolha, a coragem de não partir sem ficar.


Quero ser bailarina cantante e abraçar o mundo.

30 outubro 2010

Pão por Deus

As gotas de chuva fustigam as telhas e janelas do meu sótão, feito de pedaços de mim. Pequeninas imagens desvanecem-se por entre lembranças ainda menores.

Meu alento, transformado em torpor, dorme ainda sem sorrisos gaiatos, sem forças, sem vontade.

Toca-me a nostalgia e não resisto em deixar-me levar por entre esse estado cheio de perigos.

Estamos quase no dia de finados, dia de visitar os cemitérios e embelezar as sepulturas com flores várias. Logo de manhã a criançada grita o “Pão por Deus” enchendo os saquinhos de doçarias e moedinhas. Ouvem-se os gritos das gargalhadas, o bater às portas, mais forte que o usual, as correrias.

Não me recordo de bater às portas de alguém, relembro apenas a minha avó e tios a encherem o meu saquinho de pano com rebuçados, castanhas e bolachinhas.

Hoje a chuva fustiga o telhado do meu sótão, e embala-me a nostalgia. Ao tempo, a chuva fustigava minha alma menineira e embalava-me o medo do que não entendia.

Quase não tenho saudades de ser criança e as que tenho vêm cheias de solidão, de pensamentos solitários, de olhares inocentes e cantorias sob o baloiço veloz, de olhos fechados, para não sentir vergonha de ser ouvida, tal era o desejo de que tal acontecesse.

Gozo de um sossego em solidão… hoje!

22 agosto 2010

Controvérsia em Mi(m)


Sempre que choro sem identificar os motivos sinto-me menos mal, menos ralada. A mente abre um dique em busca de um qualquer alívio.

Não é decerto masoquismo ou auto-comiseração, mas um choro libertador, cheio de asas, um choro que se separa de todos os outros choros que, angustiantes, mergulham em desespero de enchaquecas, em rappeis de desgraças, entremeadas com subidas alucinantes de parapente, de raivas impossíveis de conter.

E é sobretudo quando páro em relax total, em abandono do corpo, que este choro surge em promessas de libertação de grilhetas, a lembrar-me um Eu que se afasta cada vez mais de Mim.

E as lágrimas quentinhas e silenciosas minam-me a imaginação em danças de loucura, repletas de adrenalina, com rodopios de cabelos encharcados em suor, ranger de ossos em limite, esgares feios, libertados na solidão.

Talvez este choro calmo me liberte, mas também me assicata a dor.

Preciso tanto descansar… não tenho a certeza de querer… de como o fazer…