Sigo! Não posso ficar!
Dormi? Terei conseguido? Não o
suficiente, que sinto as pálpebras fecharem.
Esperem… Estou lembrada de embater no
meu filho, algures, por entre névoas.
Estava onde?
Que importa?
A cabeleira cai-me para o rosto,
enfiam-se finos cabelos nos olhos
e não consigo tirá-los.
Os meus cabelos estão cheios de electricidade estática.
e não consigo tirá-los.
Os meus cabelos estão cheios de electricidade estática.
Estática... Deixem-me rir.
Estática sinto-me eu, que tenho os pés gelados, o nariz quase a cair e não sei se com estalactites. Os olhos, ao contrário, ardem que nem achas na fogueira, com fumo e tudo.
Estática sinto-me eu, que tenho os pés gelados, o nariz quase a cair e não sei se com estalactites. Os olhos, ao contrário, ardem que nem achas na fogueira, com fumo e tudo.
E é com este aspecto
que terei de olhar os “monstros” sedentos de documentação.
Estou empedernida!
Quero um Guronsan,
pleaseeeeee…
O café terá deixado de
fazer efeito? Já tomei um no leite, mal coloquei o esqueleto fora da cama -
tipo zombi.
“- Sai um galão de
máquina com leite frio” – diz o empregado , esboçando um sorriso ao ver-me
entrar de rompante na pastelaria, quase a estatelar-me ao comprido no final dos
três degrauzitos.
“- Tipo bomba” –
acrescento eu, a experimentar a voz ainda adormecida e corando de vergonha, com
a sonante espalhafatosa e desajeitada entrada.
E foi o que foi.
O chapéu-de-chuva
prendeu-se no saco; o saco enredou-se na alça da mochilita; as luvas, com dedos
a sobrar e sem tacto, esmurraram o copo do galão:
COM ÊXITO.
E eu a tentar segurar tudo, por entre sons PNI (Perfeitamente Não Identificáveis):
SEM ÊXITO.
E... zás, bem na minha
frente, o evasivo copo cai, sob o meu olhar horrorizado, escorrendo o meu rico
galão bem por cima das botas de um polícia que, com um colega, ali se
encontrava a beber a sua biquita.
ESTOU INOCENTE!!!!
JURO!!!
Pensei dizer - com ênfase
e tudo.
Mas não estou!
Mas não estou!
Tinha sido minha culpa,
mesmo minha e, para cúmulo, sai-me um longo e sibilado
“- Upsssss…”,
assim como se em vez de ter sujado as botas engraxadas do senhor agente, estivesse a jogar um bubbles com ele e lhe tivesse dado uma grande “sova” e ainda usasse de sarcasmo.
“- Upsssss…”,
assim como se em vez de ter sujado as botas engraxadas do senhor agente, estivesse a jogar um bubbles com ele e lhe tivesse dado uma grande “sova” e ainda usasse de sarcasmo.
“- Upssss…”
Com ele a fixar-me, por
detrás das lentes escuras dos óculos (decerto incrédulo), quando deveria olhar
as botas e delas não desviar o olhar, de forma a permitir-me a fuga (a sete
pés), até entrar espavorida no comboio, já em andamento e com as portas a
fechar, enquanto o chui - a gritar e gesticular - corresse ao longo do comboio, mas
fora dele, claro.
Com direito a tiros
para o ar e tudo.
E o meu comboio que não
chega aiaiaiaiaai.
Tenho a certeza que vê
em mim algo de estranho. Ao olhar este rosto de ar esgrouviado e macilento de
olhos vermelhos e alucinados:
uma possível marginal.
Por isso, até pode puxar
do cassetete e dar-me com ele no meio dos olhos e segurar-me pelos cabelos (à tempo da pedra) e arrastar-me até à pildra.
POR OUTRO LADO, vê
alguém com saco e mochila, que tem um ar lavado e perfumado, que lhe retira a
marginalidade -, ainda que o esgrouviado fique.
Por fim, digna-se
pousar a chávena do café enquanto diz:
“- Não tem
importância.”
Como possuo uma
imaginação fértil, até lhe coloco um leve sorriso nos lábios, mas adivinho-lhe
nos olhos faíscas, raios, granadas, bazucas, chaimites, sei lá… até tubarões de bocarra escancarada e, por
instantes, nem um dedinho me atrevo a mexer, até que me retiro em câmara lenta,
de marcha à ré – que não quero ser morta pelas costas – resistindo à vontade de
puxar de guardanapos, me ajoelhar e limpar-lhe as botas, com medo de nelas
esbarrar o nariz.
Já no comboio, em
desassossego completo, pouso toda a tralha causadora do incidente (afinal não
fui eu hihihi), recosto-me na cadeira, estico as pernas e esforço-me para não
rir às gargalhadas, que com a minha sorte algum dos viajantes poderá ser do
Júlio de Matos e entre este local e a prisão… não sei o que prefiro.
Uma coisa é certa…
melhor que a cafeína, só mesmo a polícia para me acordar!