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05 outubro 2015

5 de Outubro 2015





5 de Outubro,  – dia de Portugal, enquanto República, outrora celebrado com um feriado.

A chuva fustiga, sem dó. 

Não me importo. A irritação que sinto e sei que devo acalmar, é feita de cinzentismo. Até a minha parte mais calma está desestabilizada. Não há ponta por onde se me pegue neste dia invernoso.

Ontem, as legislativas mais uma vez se decidiram pela vitória da direita e, embora sem a maioria, fiquei perplexa.

No comboio o silêncio, invulgarmente, acontece.

Por onde andam os festejos?

A alegria não paira e muito menos se estampa nos rostos dos que me rodeiam. Olho atenta: vejo rostos tristes, cansados, descolorados.

Por onde andam os conscientes eleitores que renovaram o bem-estar de alguns e permitiram resultados que brocam os ainda saudáveis dentes deste país tão lindo?

Por onde as bandeiras, os fatos, as gravatas, o acre odor a perfume caro “I go all the way”?

Estes viajantes vestem roupa triste, coçada e com vincos: têm os rostos crispados.

A crosta de desânimo teima em crescer e eu – antes que me espoje pelo chão, a chorar a tristeza do tamanho da chuva que rompe o silêncio – apelo à calmaria.

No meu comboio não há culpados.

No meu comboio não há inocentes.

Hoje politólogos enumeram razões super inteligentes e compreensíveis para o resultado obtido.

Preciso imaginar que o meu povo – desanimado – é estratega, sabe o que faz: tem em vista a limagem das diferenças entre os partidos. Tudo em prole do entendimento e simbiose de ideias entre os cabeças pensantes, que nos transcendem em decisões, que nos levam por caminhos tortuosos, mas sempre no encalce de um Portugal melhor, para todos.


Mas, por vezes, os meus sonhos estão cabisbaixos, desanimados e tristes.

E o vento passa e nada me diz