Olhava as pedras, enquanto caminhava… uma, duas… O barulho do mar, calmo e belo, indicava-lhe o caminho, rompendo a noite longa, só.
A paz não chegava ao seu ser, mas a calmaria dessa mesma noite e local embriagava-a de tal forma que adormecia os desesperados sentidos.
Horas, minutos tudo se confundia. Aos poucos a tristeza que a condenava, que a corroía bem fundo, em desânimo inexplicável, não lhe deu mais tréguas e venceu todas as sensações bonitas.
Nada de certezas, nada de motivos, uma carrada de nadas no seu total sentido de vazio.
Com medo, reiniciou o andar, a custo, coxeando, por não sabia onde, mas a noite e o murmúrio do mar, irreais, qual cantar de sereia, chamaram-na baixinho, docemente… vemmmmmmmm vemmmmmmm
Perdeu-se no mundo de todas aquelas sensações, em tentativas de evasão. O que pensava? Nada, ou talvez tudo…
Viu-se no cimo de uma escarpa, em contra luz. A sua sombra recortada no solo bonito, como a noite, chamava-a carinhosamente. Quando se atirou o seu corpo continuou no mesmo sítio, parado, pensando no mesmo nada e no mesmo tudo, assistindo ao bonito da noite linda, de cores deslumbrantes, misturadas, ouvindo o silêncio do rebentar das ondas, pressentindo uma paz que acabou por encontrar, engolida pela noite, pelo mar.
Esqueceu a maldade, as dores, tudo o que a desesperava, todo o seu eu.
Perdeu-se! Fundiu-se no espaço, no vento quente e aconchegante, em voo picado, imaginando as estrelas, com sorriso aberto e calmo.
A morte, igual à noite linda, amparou-a na queda e docemente pousou-a nos rochedos.
De manhã, um pescador encontrou-a e agarrando-a pelas asas caminhou até ao lixo.