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17 setembro 2013

Emoção



Vestes lágrima sofrível
Pintas dores no coração
Guardar-te é impossível
Largar-te? Ainda não!

Moras dentro de meu peito
Junto ao morro da saudade
Pões-me a alma bem a jeito
A abarrotar de ansiedade

A sufocar sofrimentos
A calar valentes dores
De mãos dadas junto a mim

Largas enormes momentos
Peço-te, não me abandones
Quisera morrer em ti!

14 setembro 2013

Uma Noite



O silêncio da noite, carregado de cheiros, entrava pela janela semi-aberta.

Eram cheiros de penumbra de Verão, em catrapiscares constantes.

Cheiros de liberdade desenfreada, com sabor a maresia e rumores de ondas a rebentarem de felicidade.

Queria mais, muito mais que aquele silêncio em abandono.

Ao longe, a travagem do vento a embater nas folhas das árvores - a lembrar sibilos ocultos -, a impregnar o ar de mistério e a dobrar malmequeres e papoilas.

Era uma noite de encantos vários.

 Uma noite de fadas, de lanternas mágicas e de estrelas a polvilharem o ar de pozinhos de perlimpimpim.

Ao longe, ainda mais ao longe, o piar nocturno de uma ave - incomodada pelo calor – bicava a noite: saboreava-a.

De olhos fechados, era perfeito o seu desenhar.

Mas queria mais, muito mais.

Queria agarrar a noite, não uma qualquer, mas aquela que lhe entrava nessa exacta noite, pela janela semi-aberta.

Uma noite cheia de cheiros imaginários, de sonhos por sonhar, de verdades escondidas, de fictícias realidades.

Era uma noite carregada de pirilampos, de borboletas e joaninhas.

Uma noite feita de longes e pertos,



01 setembro 2013

Just a small moment of me



Vi um filme, porque hoje é domingo, não trabalho. Sentei-me no sofá, pernas estendidas, almoçadeira cheia de leite e água e café e açúcar, em doses ocasionais – sempre certas.  Várias fatias de pão com doce, acompanharam o desenrolar do filme que, já vi em tempos e até tenho na estante da sala.

Grotesco não me lembrar de um filme assim. Deve ser da idade (a avançar mais rapidamente do que alguma vez imaginei), falha-me a memória.



E dei comigo a encolher as pernas, a abraçar a cintura e a chorar, que nem uma desalmada: a não me importar se algum resto de rimmel esborratava as minhas olheiras.

Porra!

Ultimamente está mais refinado o meu sentir.

Ao perceber que a máquina de lavar roupa terminava a sua função, fiz pausa para a estender.
Debruçada nos ferros pintalgados de ferrugem, vi o meu quintal. Corri o olhar em redor e senti que viajo muito, que descubro pequeninas coisas  - e como eu gosto de descobrir pequeninas coisas.

E senti os olhos brilhar de felicidades várias.

Foi exactamente nessa altura que me lembrei de um soneto de Camões sobre o amor e me apeteceu roubar um verso:

“é um andar solitário entre as gentes”.

Porque esse verso define muito de mim. Entra pelo meu sótão e embala-me as memórias, à laia de quem se despede, mas fica sempre.

E eu permito, porque vou doseando a solidão com a vontade de viver e a esperança de um dia o esquecimento ser maior que a própria dor:


incapaz de ultrapassar as minhas pequeninas – mas tantas - felicidades.