Páginas

15 maio 2008

Etérea Calmaria




Foto: minha autoria






Olho os fios que me levariam a ti. Parecem-me firmes, fáceis de agarrar.

É tão fácil imaginar que do outro lado a felicidade aguarda.

Sentir a calmaria revelada no sorriso, em silêncio, imaginado e sentido, forte.

Avanço… Deparo com a penumbra crepitante das achas da lareira.

Eu, sentada no chão, como gosto, cabeça pousada em teu regaço. Em resposta, as tuas mãos gretadas, quase rudes, a festejarem meu rosto… e eu a deixar, a senti-las em veludo, deliciada e mole, agradecida pelas estórias que me vais contar.

Eu, a tentar agarrar uma das tuas mãos, para as beijar, acariciar…

Mas, os fios subdividem-se no seu final e, mais finos se tornam, cortam-me as mãos, que teimam em não os largar…

Eu, a largá-los, a deixar escapar… sempre.

Não quero tempestades nascidas da calmaria, não ouso meu sangue coagular em soluços de silêncio inquebrável.

E eu, estupefacta, a matar a dor pelo cerne, a esquecê-la.

Eu, a sair vencedora e vencida.

E, no entanto, no sonho, como parecem infinitamente belos o querer… o desejar…