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30 outubro 2011

A Limpa Chaminé


Ora atão não querem lá ver… Mais um fim de semana a malhar em casa. Isto não são queixas… naaaa. Que importa se os dedos ficaram com as unhas negras – e até lexívia levaram – que importa se fiquei com o braço direito cheio de negras e arranhões e com o alto do cocuruto a doer (foi só um bibelot de ferro que caiu da lareira, bem na pinha… coisa sem importância… grrrrrrr).

O que importa é que a minha lareira ficou (quase) desentupida. Yeahhhhhhhhh

Engoli cinza com’ó caraças, respirei cinza com’ó caraças, esborratei-me toda (as fotos não me deixam mentir, hehehe), sujei a casa que tinha sido limpa no dia anterior… Mas fiz ginástica com tanta subida e descida ao telhado, onde, quem pode, assistiu a malabarismos incríveis.

Sobretudo fiquei a saber como é que a minha lareira é por dentro…

NEGRÍSSIMA!

No final, vestida como estava, lavei a cara e fui ao Max Mat comprar uma cena que desentope o resto… dizem eles.

Agora… O produto milagroso só funciona depois de 2 a 3 horas de lume aceso na lareira… Ok… muito bem… boa mesmo…

E DURANTE???? VOU VIVER PR’Á ONDE???? HEIN???????


29 outubro 2011

OcuparLisboa Livestream


O livestream está ligado em “OcuparLisboa”.

Dou saltadas constantes e catrapisco a malta que contesta em amena confraternização e partilhas várias. Dentro de mim um sentimento vai crescendo. Um? Nada disso… muitos sentimentos se entrecruzam e nem sempre bonitos, confesso. Quase sinto inveja daqueles verdes anos. Como é bom sonhar, desejar, lutar por algo que se acredita. Quem pode apontar um dedinho? Só os de ideias curtas, infelizmente muitos.

Trata-se de um movimento pacifista, jovem de mentalidade. Um pequeno grupo que ao som de batuques, flautas, digideridu (não sei como se escreve sorry), viola, saltinhos para combater o frio, pequenas habilidades circences… vai acordando e tentando despertar os que preferem dormir em sonhos de espera.

Sempre foi mais fácil aguardar pelas resoluções. Sempre foi mais fácil criticar sem nada fazer.

Participar?! Para quê? Apanhar frio, chuva, aguardar pela comidinha, pela água. Esperar que deixem montar pequenas tendas para minimizar a molha e o frio…

São jovens, filhos de alguém, o meu está lá… e eu cá, dando saltadas constantes ao livestream.

E a alegria sempre que alguém aparece, sempre que alguém partilha, sempre que alguém olha? E a descoberta de não estarem sós? Importante sim!

Uma certeza se apresenta. Esta malta jovem criou grilhetas irrevogáveis entre si. Vivem o presente, o seu presente, mas também o presente que pretendem para todos os outros e, mesmo que os ideais não se concretizem, algo de muito importante já foi feito. Algo que os fará sentir valer a pena começar de novo, sempre e sempre e sempre que seja preciso, sempre que julguem ser preciso, mas jamais contra o que sentem.

Ah pois é… vou dando saltadas para ver a malta e, pacivamente, sinto vontade de também o ser.

Dou saltadas constantes em constantes saltadas de desejo de lá estar, é o que é!

26 junho 2011

Pequenas grandes coisas

Passei uns dias agradáveis em casa.

Carpintei, jardinei, cavei, limpei, electricidei (lol), e, ainda, fui dona de casa e convivi com os mais próximos de mim (filho e namorada, sobrinha e marido, irmão e namorada) num jantarito, ontem, no quintal, onde, inevitavelmente, devo ter engolido uns mosquititos endiabrados que resolveram importunar.

Deliciadíssima no meu quintal, sem querer saber quem poderia ver-me em chinelos e calções, desgrenhada e suja, de pá, tesoura, vassoura ou mangueira de rega na mão, dancei passos complicados e inventados, assobiei e cantei montes de canções que saíam a correr da minha salita em forma de rock, jazz, swing, pop...

Hummmmm parti-me toda com tantos esforços, cheguei a andar encarquilhada, fiz bolhas entre os dedos de unhas enegrecidas de terra e engrossados e secos de tanto esforço.

Fiz figuras ridículas nas fugas saltitantes e ruidosas ao avistar aranhas, centopeias e todo o tipo de bichinho que habita sem pagar renda nos meus domínios.

Atendi telefonemas, fiz telefonemas. Parei a contemplar as minhas obras (que nunca revelam a trabalheira que me dão), sentada no chão quente de tijoleira ao sabor de um cigarro.

Mas o que me espantou foram as lágrimas que escorreram pelo meu rosto quando deitei a minha pessoa e a felicidade que se me colou à alma sobre o murete que divide a minha casa da dos meus vizinhos e me deliciei, uma boa meia hora, a olhar o céu e tudo o que por lá passava, ao som da música que do meu ipod continuava a correr por entre filamentos até às colunas, transformando-se em delicioso milagre.

Por vezes consigo ser tão feliz que até dói.

06 março 2011

Estranha Forma de Ser


Ali estavam os dois, lado a lado, sós, em diálogo surdo, com a fala a sair aos tropeções, num som exaltado e ausente, entre a agressividade e o desespero, som estranho, mesmo para quem o proferia.

Só o pensamento, descodificado e impune, impunha a sua presença, em ruídos de acusações estéreis.

Sempre aquele nó cego a fazer doer os neurónios da compreensão e a debilitar as forças que saíam em gotas de suor, alertando para mais uma crise onde vencer era uma acção desconhecida.

E o voo da felicidade a sentir-se perdido, desorientado, com asas de desconfiança, inseguras.

Fazia falta algo, uma paragem talvez, mas… como se pára o que não se entende? Como se acalma o desejo da mudança? Como se alteram os pesadelos?

Que palavra faltaria usar?

Ah a invenção a abandonar a racionalidade, a racionalidade a mascarar-se de ilusões e estas a magoarem o âmago do entendível.

Outros olhos, não os redondinhos inquiridores, mas os da alma, os do vazio intenso, alojados sabe-se lá onde, queriam ver para sentir, mas a cegueira do desespero obrigava-os a fechar-se, colocando-os no esquecimento, no abandalho de vida que se alojava aos poucos, virótica e resistente, votando-os aos esquecimento do que ainda não acontecera.

Por onde parariam as estrelinhas da importância? O perfume da sedução? O encanto da descoberta? A leveza? A aventura?

E as teimosas palavras surdas a saírem em boomerangue, a transformarem-se em setas, a estilhaçar o próprio coração.

Seriam eles aquilo?, só aquilo?

Não!, mas para já, servia-lhes bem a esgrima sangrenta da ausência de palavras; a insanidade da culpa isolada; o medo da solidão sob vestes de carrascos de grilhetas inventadas, ou moribundos amorosos, em decomposição, lenta, sofrida, quase sado-masoquista.

E no vício inconsciente da autodestruição, o bambolear desajeitado de uma forma de vida em gritaria de soberba solidão, quase maravilhosa, nostálgica e triste, com sardas de alegria e deportada vontade de ser.