5 de Outubro, – dia de Portugal, enquanto República,
outrora celebrado com um feriado.
A chuva fustiga, sem dó.
Não me
importo. A irritação que sinto e sei que devo acalmar, é feita de cinzentismo.
Até a minha parte mais calma está desestabilizada. Não há ponta por onde se me
pegue neste dia invernoso.
Ontem, as legislativas mais uma
vez se decidiram pela vitória da direita e, embora sem a maioria, fiquei
perplexa.
No comboio o silêncio,
invulgarmente, acontece.
Por onde andam os festejos?
A alegria não paira e muito menos
se estampa nos rostos dos que me rodeiam. Olho atenta: vejo rostos tristes,
cansados, descolorados.
Por onde andam os conscientes
eleitores que renovaram o bem-estar de alguns e permitiram resultados que brocam
os ainda saudáveis dentes deste país tão lindo?
Por onde as bandeiras, os fatos,
as gravatas, o acre odor a perfume caro “I go all the way”?
Estes viajantes vestem roupa
triste, coçada e com vincos: têm os rostos crispados.
A crosta de desânimo teima em
crescer e eu – antes que me espoje pelo chão, a chorar a tristeza do tamanho da
chuva que rompe o silêncio – apelo à calmaria.
No meu comboio não há culpados.
No meu comboio não há inocentes.
Hoje politólogos enumeram razões
super inteligentes e compreensíveis para o resultado obtido.
Preciso imaginar que o meu povo –
desanimado – é estratega, sabe o que faz: tem em vista a limagem das diferenças
entre os partidos. Tudo em prole do entendimento e simbiose de ideias entre os
cabeças pensantes, que nos transcendem em decisões, que nos levam por caminhos
tortuosos, mas sempre no encalce de um Portugal melhor, para todos.
Mas, por vezes, os meus sonhos estão
cabisbaixos, desanimados e tristes.