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04 março 2007

Tou Tiste...



Foto: Minha autoria





Determinada estou a finalizar algo que iniciei faz anos. Percebo que tudo o que realmente me interessa tem altos e baixos, entusiasmos e desalentos, lutas constantes com o meu Eu - ora teimoso e cheio de forças, ora desapegado e mandrião. As minhas decisões acabam por se concretizar, sei bem que será esse o desfecho, mas teimo em criar tensões que me stressam até aos limites da minha paciência. Por tal, ralho comigo, chamo-me a atenção e mergulho em arrependimentos tardios, mas não definitivos.

O trabalho é interessante, cria em mim desafios constantes e, quando mergulhada em leituras, o entusiasmo exacerba-se ao ponto de esquecer que devo alimentar este físico a acusar magreza.

Oiço música durante o processo e dou comigo a abanar a cabeça, enquanto, em gestos de maestro, empunho a caneta com que sublinho os apontamentos. Os pés não param de tremelicar e o delírio é atingido em ideias que tento reter em tópicos soltos, pelos vários ficheiros que crio no Word. Pela secretária, chão e sofá proliferam folhas, livros e fotocópias de apontamentos, num desorganizado espaço físico assustador.

Quarta-feira, se tudo correr como combinado, encontrar-me-ei com o Professor Orientador. Sei que vou titubear, as minhas mãos irrequietas tentarão colmatar as falhas da voz e do pensamento, durante os primeiros minutos (mínimo 10 – se não for muito interrompida), que depois acalmo, fico adulta e difícil será calar-me.

Mas sinto uma solidão estúpida que me entristece e frustra. Penso como seria bom “sentir-te a meu lado” num orgulhoso olhar por entre a fresta da porta do escritório, brincando em sorriso de contemplação na minha pessoa. Ver-te entrar em bicos de pés, numa pantomímica engraçada, equilibrando um prato de comida. Perceber o alargar do teu sorriso ao verificar que meus olhos brilham de amor incontido e, já sem medo de reprimendas, sentir as tuas mãos pegar nas minhas enquanto, de forma mimada, me pedes uma pausa, que concederei de imediato. Acompanhar os teus passos até ao quintalinho, tão esquecido, e aconchegar-me no teu abraço a contemplar a Lua que se esconde por entre adivinhadas nuvens, enquanto te acaricio as mãos e brinco com teus dedos.

Paro então o meu trabalho, a minha leitura, a caneta… dou-me conta dessa falta, em tristeza embrulhada e, num manso carinho de e para mim, escuto melhor a música e faço-me um pouco de companhia. Abro os meus pequenos mundos e escrevo de enfiada este texto, paradigma dessa estúpida solidão.

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