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01 novembro 2007

Linhas de Uma Vida


Foto: Minha autoria


Esgravato sem dó meus pensamentos e sem dó os sorrisos se desapegam de mim, voam para longe, envelhecidos, doentes. Olho minhas mãos, em susto. Não as sei desenhar ou descrever. Serão minhas? Observo a linha da vida, enorme e bem definida.

Preciso afastar-me de mim, viajar em velocidade ou doce lentidão, mas fugir. Olhar meu corpo em fuga e aliviada dormir um sono lindo e calmo.

Por onde andas minha vida? Salto constantemente tuas linhas e erro a que me pertence…

O som do violão espalha-se e odeio a serenidade que percorro ao ouvi-lo. Outrora tive uma viola, só por ter - que não a sabia tocar - mas era bom olhá-la, sentir o seu cheiro a madeira e verniz, ver dedos a dedilhá-la enquanto nervosa esperava a vez de cantar.

Tive uma linha para mim, uma linha de uma vida a que não pertenço, mas partilhei. Fugiu sem eu saber como e em que altura, quando olhei em redor já lá não estava. Para trás… eu, qual menina abandonada, de olhos esbugalhados e boca aberta, segui meu caminho em companhia de mim, meia cabisbaixa, por não saber o que olhar.

Tive outras linhas, mas com a tendência de tropeçar no nada, em nada quase ficaram.

Sou um molde com defeitos que tenta aperfeiçoar-se, mas o tempo passa, também ele sem dó, acabo por ficar mais perfeita nas imperfeições acumuladas.

E o desespero que cheiro nas mãos que olho e conheço - por as olhar, somente por isso – desenha-se em sorrisos ingenuamente imaginados, perdidos de si e jamais encontrados.

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