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02 novembro 2013

O Dia de Finados Está Moribundo

Hoje é dia 1 de Novembro, dia de finados.

Pela primeira vez (que me lembre) não é feriado. Neste dia, todos os anos, várias crianças gritam: "Pão por Deus", enquanto, em bandos e por entre risadas ansiosas, tocam as campainhas insistentemente.

Por estar de folga, fui - como é meu hábito - comprar doçarias para a criançada. Coloquei numa taça: chupa-chupas; rebuçados; gomas com formas de dentaduras de vampiros, fantasminhas, máscaras, caveiras...

Hoje, pela primeira vez, desde há muitos anos, na minha taça  subsistem imensas guloseimas. Durante o dia, fui espreitando por entre os ferros do portão e apenas vi o imenso vazio de crianças. 

Hoje (e só porque existe uma escola perto), tive hipótese de distribuir alguns doces, no intervalo grande, porque, pela primeira vez, fui eu que chamei a criançada que passava e lhe dizia ser o dia de pão por Deus.

Acredito que os cemitérios também terão sido menos visitados. As campas serão limpas em outras alturas (mais vulgares), as flores murchas substituídas quando houver tempo para isso.

Os mortos mais sozinhos.

E fiquei triste. Triste por ver tradições a morrerem, triste por perceber que a cultura de um povo empobrece, por decisões de alguns que dizem representá-lo. Triste por todas as crianças que, sem se darem conta, terão menos alegrias, menos  cumplicidade, menos partilhas, menos sorrisos por parte dos adultos. 

Transformámos um dia tão especial num igualzinho à maioria dos restantes. Acizentá-mo-lo.  

Estou mesmo triste!

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