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20 maio 2006

De Tolos e Loucos...



Foto de: Pedro Machado



As fotos da minha vida desfilam diante meus olhos fechados, pacatas, repletas de legendas e personagens misturadas - como se o facto de me conhecerem lhes permitisse conhecerem-se?!

A sensação de abandono apanha-me que nem um murro certeiro no estômago. Vejo-me a sorrir, consolo de mim mesma e gosto. Gosto da sensação de me sentir, gosto da emoção de me reconhecer, de ainda me não ter perdido.

Penso nos mundos que teria de contar, mundos que conheci e vivi. Percebo que não existem palavras suficientes e que os pensamentos podem não passar de memórias expurgadas, viciadas pelas várias percepções dos momentos em que existiram, em que ainda não eram memórias.

Dou conta das ténues linhas que ligam os meus mundos, das várias pontes que atravessei em visitas não pensadas. Relembro as alegrias e as tristezas e em ambas reconheço a inocência.

No desfile ininterrupto uma frase surge: “I´m special... so special...” e projecto a minha imagem em dança. As lágrimas saem. Como raio conseguem elas sair tão docemente por debaixo das pálpebras cerradas? Sinto-as quentinhas, a engrossar forças para percorrer o trajecto que as levam ao meu sorriso, onde por momentos ficam quietas, para logo de seguida se perderem.

Fulano de tal, nasceu em... filho de pais miseráveis, teve uma infância infeliz. Aos vinte e tal anos... Páro o pensamento. Então uma infância conta-se assim?, num estalar de dedos?... puf,... teve uma infância infeliz... e já está! Pensem o que quiserem, que os pais lhe batiam mal ele se levantava da cama, que era doente crónico de várias mazelas, que passava fome e era vítima da conjuntura socio-política da época... que fez uma adolescência isolado da realidade, como se de mais uma doença se tratasse, desta vez uma doença proibída, que o envergonhava, até perceber que já não era mais criança. Assim, sem mais nem menos, num outro puf. Para onde foram os sofrimentos? Para onde foram os sonhos? Para onde foram todas as palavras usadas por ele? E as perguntas? Sim, para onde foram as perguntas? E o ar que ele respirou, onde está? E a luminosidade do olhar? As suas lágrimas?...

Tento perceber o que quero transmitir a mim mesma. Por que carga de água é que os pensamentos se enovelam em turbilhão e parecem não ter nexo? Imagino que se alguém dissecasse os meus pensamentos me diagnosticaria uma loucura qualquer.

Vou estender o meu exterior na corda de secar.



2 comentários:

Fio de Beque disse...

A única loucura que te dissecariam seria a tua própia identidade... gostei muito dos teus textos

Anónimo disse...

"Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança."
Que o sonho comande sempre a tua vida....
Faz o favor de ser Feliz.
Beijos Grandes
Sempre
Kawa