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02 setembro 2006

Tudo Eu

Foto: minha



Levanto o rosto e imagino-me de olhos esbugalhados a olhar as céleres paisagens, feias, pejadas de prédios despersonalizados.

A pressão nas órbitas dá-me a conhecer o pronto choro. Não quero! Nem que estivesse só no comboio onde viajo. Não quero!!!!!

Sinto os músculos do rosto a contrair, o olhar a endurecer, os lábios a apertarem-se, enquanto mordo a língua, provocando a abertura das narinas e a contracção do diafragma onde travo o ar que inspiro.

“- És tu!”

Oiço-me gritar, dentro de mim. Acuso-me de um ápice, sem dúvidas. Não existe gozo na acusação apenas o estatelar de uma sentença, qual sina a que não se consegue fugir.

“- És tu!”

Resmungo ainda, como se dissesse “é sempre a mesma porcaria, sempre! E agora lá tenho eu de aparecer, munida da mala das minhas orgulhosas forças a safar-me da queda… blá blá blá”.

Severa – como um general ríspido, cheio de nove horas e manias - disfarço a ilimitada bondade e compaixão e, em meus invisíveis braços, acolho a minha pessoa, mais fraca, menos corajosa.

Antes que escorregue pelas estreitas linhas do inconformismo e da “desgraçadinha do gamanço”, amparo-me, sacudo-me, grito-me e seco as lágrimas que não chego a chorar.

Está um dia tão bonito!

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