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26 outubro 2006

A Dança




A noite faz-se lenta ao lado da presença masculina, seu amado.

Recosta-se no banco e pensa como é bom deixar-se ir assim, sem saber para onde, ao sabor das suas ideias, das suas surpresas. Precisa daquele sossego, do clima amoroso que respira deliciada, do seu querer, do seu desejo.

O carro segue em pequenos ziguezagues evitando as desagradáveis lombas que se encontram interrompidas aqui e além, até que pára, meio encavalitado, no passeio. Adivinha o que irá suceder e ainda assim o seu riso explode de satisfação ao ver a figura dele do lado de fora, a abrir-lhe a porta, enquanto lhe estende a mão desocupada. Sai saltitando e aceita o enlace do seu corpo. A música estende-se até eles e dançam-na, num aperto suave. Mal a inocente dança termina, apoia a cabeça no seu peito e aperta-se carinhosamente contra ele, em agradecimento de tanta felicidade.

Ambos, no silêncio do afago, nas perguntas de promessa, no desespero de certezas do infindo, no amor possível e diferente, não querem deixar de se surpreender. As noites sarapintadas de brilhantes estrelas e a chuva, permitida por entre alegres e fugidas corridas, serão cúmplices eternas daquele sentimento lindo, de juras desnecessárias, nunca pronunciadas.

Os dedos em ternura descem pelo rosto dele, interrompidos pela doçura do seu olhar. Suavemente, em bicos de pés, beija-o e é beijada. Em rodopio se vê, levantada pelos braços fortes do seu amado e ri criança que se sente.

Dentro do carro, de corações exaltados, relatam-se em felicidade de amantes, numa viagem onde já nenhum dos dois imagina qual o destino.

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