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22 outubro 2006

Um Dia Destes "Não Choverá"

Foto: Minha autoria



Acabo de deixar o meu filho no seu emprego. Volto devagar, penso na sua vida e o medo avoluma-se.

A chuva bate no pára-brisas e o vento abana a carroçaria. Não ligo a música, não quero sons que não o da chuva e do vento. Apetece-me viajar sem rumo, mas o carro segue os trilhos conhecidos de regresso a casa. Percebo que a ela me dirijo e nela ficarei a maior parte desta tarde em mau tempo.

Penso nas amizades que tenho… não quero estar com alguém e, no entanto, imagino que as minhas palavras terão eco algures, mas onde? Não gosto de maçar, não gosto de desabafar, não gosto de estorvar, não gosto de pedir…. Tanta coisa que não gosto de transmitir aos outros, com medo de me acharem chata, com medo de os ver afastar enfadados, com medo de os entristecer, com medo de os incomodar… Sei que um amigo aguenta, mas eu gosto de estar com eles de uma forma diferente e, por isso, à pergunta que me fazem de “tudo bem?”, eu respondo “sim!”, quando a minha alma, em dor de “não!” se debate. “Tudo bem!”, quando a minha voz se cala em desordem por não gritar “tudo mal!”.

Sei que ninguém resolverá os meus problemas para quê então transmiti-los?

Pelo caminho dou passagem a um outro qualquer e vejo a sua mão erguida em agradecimento. Levanto a minha também. Acabámos de comunicar. Fragilizo-me toda. “Hei! Tou mal, sabes?, Queres falar um pouco? Queres fazer-me sorrir? Queres ir beber um copo, fumar um cigarro? Ser um amigo? Abraçar-me o sono em festas pelos cabelos enquanto sussurras “-Chiuuuu tudo bem…. Está tudo bem!” Queres? Só para adormecer em sorriso, pode ser? Preciso tanto sorrir! Necessito tanto que alguém me ampare e sossegue o sono…”

O carro dele afasta-se veloz, já não o vejo, já não o lembro. Olho a serra que mal se esconde nas nuvens e imagino o riso da subida. Amiga minha, querida do meu coração, reza por mim e dá-me forças… foste sempre tão corajosa. Que falta me fazes. Estás bem?

A chuva e o vento fustigam-me as emoções que derrapam pelo meu rosto. Quando subirei de novo a serra na tua companhia? Quando nos deitaremos outra vez nas enormes pedras que espreitam o arvoredo em baixo? Quando falaremos em riso desenfreado? Quando? Amiga… querida amiga... lá do Céu, se tiveres um pouquinho de tempo, olha por mim. Ando um pouquinho perdida e já não rio com tanta facilidade, mas lembro-me de ti e continuo a amar-te. Que saudades tenho de ti, que saudades tenho dos nossos sonhos.

O meu filho sairá depois das 22h. A ele volta o meu pensamento a ele regressam os meus cuidados. Um dia o meu sorriso será verdadeiramente largo, quando no seu rosto querido um verdadeiro sorriso se fizer sentir.

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