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01 janeiro 2007

Quase Meia-Noite

Foto: De minha autoria

Dou conta de que a minha passagem de ano foi calma. Nada de fortes bateres do coração. Nada de ansiedades, nada de lágrimas. Terá sido a imensa constipação? Ou a idade e os imensos estalos da vida (ui… que dramática) me tornaram mais calma? Logo a mim, que adoro exaltações…

Este ano não aconteceu a despercebida escapadela a um cantinho qualquer para, longe de olhares, em silêncio, gritar o meu desejo: “Felicidadeeeeeee”. Todos os anos o mesmo desejo… “FELICIDADEEEEEEEEEEEEEE”. No cantinho onde me escondo, de rosto e mãos crispadas, como se a força com que cerro as mãos e os olhos me realizassem o único desejo que pretendo – felicidade, enquanto rodeadas de brilhos estrelares as imagens das pessoas que amo desfilam entre as pálpebras e as órbitas, todas elas enfeitadas de sorrisos lindos que me fazem também sorrir.

Nada! Este ano nem triste nem alegre estive… foi normal o meu sentir, sem saudades, sem desejos, sem quereres, sem imaginar o presente, sem querer saber do futuro.

Mas estive bem! Com o meu lindo e adorado filho, que só foi ter com os amigos depois de me dar beijinhos e me desejar um feliz ano novo, e com a minha grande amiga e vizinha e sua querida filha.

Meia dúzia de passos após os 15 minutos da meia-noite, zás, estou em casa. Sem ratinhos, abóboras e com ambos os pés calçados. Serenamente.

Não fui ao meu quintalinho, de cigarro em riste e copo de Asti a borbulhar. Não olhei o Céu, a Lua, as estrelas… não coloquei a minha gasta musiquinha que invade pacientemente o meu cantinho ao ar livre. Não tracei as pernas por cima da mesa verde desbotada, nem me recostei na cadeira plástica… nem sequer deitei a cabeça para trás, como quem aguarda que um ser superior qualquer se lembre de abençoar seu rosto. Nada!!! Nem um suspiro ou um aconchego.

Mas estive bem! Repito, podem acreditar… mesmo bem! Com um ligeiro temor impensado, alguma estranheza de meu rosto não molhar, diria que com uma certa felicidade… pacífica… isso mesmo… uma felicidade pacífica recheada de alguma desconfiança e espanto.

É que nem sequer o portão das minhas ansiedades, que espero emoldure um dia um rosto de príncipe encantado, eu olhei.

Deve ser da medicação, dos anti bióticos, anti histamínicos, anti inflamatórios… com tantos anti devo ter ficado anti Eu. Só pode!

Aguardo o fim das tomas medicamentosas com alguma curiosidade. Imagino-me esbaforida, a correr desenfreada, em saltos a tudo que se interponha entre mim e o meu quintalinho, num corte de meta imaginário, a espalhar cigarros pelo chão húmido de tijoleira, enquanto me apercebo que nem se ouve a música, nem tão pouco tenho cinzeiro e, já que tenho de regressar a casa… um copito de qualquer coisa dava jeito… e as passas, as passas… as famosas passas que podem ser sultanas, ou nortanas, que sempre fui desnorteada, pouco importa… mas rápido Teresa… que, mesmo sendo 4 de Janeiro, é quase meia-noite.

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